Aumenta número de mulheres em assessorias esportivas e provas ciclísticas
Semana sim, semana também, desde meados de abril a ciclista Ana Lídia Borba começa a terça-feira da mesma forma: a partir das 7h, ela comanda um treino na plataforma Zwift. O pelotão virtual é exclusivamente feminino e o propósito do encontro é possibilitar que as atletas se mantenham ativas mesmo durante a pandemia do Coronavírus. A iniciativa foi criada pela organização do Haute Route Brasil, prova que ocorre em março de 2021 em Santa Catarina, com percurso de 222 quilômetros e estágios na Serra do Rio do Rastro, no Morro da Igreja e em Florianópolis, com largada na histórica Ponte Hercílio Luz.
A presença feminina nas provas e pelotões de treino ainda é relativamente pequena, mas a tendência é de crescimento. “Há muito a avançar, mas hoje é perceptível que a participação das atletas mulheres cresce ano após ano em diversas competições”, diz Gisele Gasparotto, da consultoria LuluFive, especializada em ensinar mulheres a pedalar. Fernanda Cedaro, da Cedaro Travel, organiza grupos que viajam para pedalar e também percebe o fenômeno. “É sensível o aumento relativamente recente da participação feminina. Com o surgimento das assessorias esportivas, as mulheres sentem-se mais seguras para treinar e nas provas da modalidade encontram o estímulo para se preparar e pedalar cada vez mais forte”.
Fernanda já esteve em algumas das principais provas do mundo, nos Estados Unidos, no Chile, no Uruguai, na Itália e no Brasil, e diz que os atletas que viajam para competições valorizam comodidade, conforto e segurança.
“Estamos planejando há meses a village para garantir a melhor infraestrutura de atendimento aos participantes. Além disso, é tradição da prova a preocupação com a segurança dos atletas. Nos próximos meses ainda vamos consultar ciclistas mulheres inscritas para levantar sugestões de melhorias”, diz o CEO do Haute Route Brasil, Fernando Palhares.
Gisele começou a usar a bicicleta como meio de transporte em 2005, passou a pedalar como esporte em 2009 e já esteve em provas como a Volta da Costa Rica, além de ter disputado inúmeras competições em velódromos. Hoje, ao lado de outras cinco atletas, integra um time que participa de competições de alto rendimento. Na Lulu, trabalha com um grupo de 60 atletas – desde iniciantes até ciclistas tarimbadas, que disputam competições amadoras com alguma regularidade.
No dia a dia, ela identifica a falta de incentivo como causa de certa descontinuidade na prática da atividade entre mulheres. “Geralmente as meninas pedalaram quando eram crianças, como uma atividade lúdica, e retomam o esporte depois de uma certa idade, geralmente após os 30 anos, quando já estão com a vida financeira encaminhada”. A própria Gisele passou pela natação e pelo boxe antes do ciclismo.
Visibilidade é palavra de ordem entre as atletas que esperam ter mais e mais ciclistas nas estradas e nas linhas de largada de competições. “Muitas mulheres se interessam pelo esporte, mas julgam que é impossível cumprir as diferentes tarefas do dia a dia e a rotina dos treinos. Então precisamos incentivar que elas tenham contato com atletas, conheçam suas histórias e percebam que é possível conciliar tudo”, diz Isabelle de Holanda. Ela, que assim como Ana Lídia Borba também é embaixadora do Haute Route, já participou de provas como o Haute Route Dolomitas e o Gran Fondo Rio. Gisele Gasparotto concorda. “Depois que começam no esporte, mulheres demonstram muita dedicação e comprometimento. O essencial é vencer a resistência inicial. Para isso é muito importante que exista representatividade, que elas vejam que outras mulheres já estão pedalando e vencendo”.
Os benefícios são variados. Na assessoria, Gisele percebe que as atletas melhoram não apenas o condicionamento físico, mas também ganham mais auto estima, adotam hábitos mais saudáveis. Isabelle, que começou a pedalar enquanto enfrentava a dor da perda de um filho, concorda. “O ciclismo hoje em dia faz parte da minha vida. Com ele aprendi muito sobre força, sobre superação, sobre enfrentar desafios, coisas que trago comigo até hoje. O mundo da bike é um mundo à parte. Só quem pedala consegue entender um pouquinho”.
Extraído do site Revista Bicicleta